flor

sou um vaso delicado que não agüenta nem orquídeas

RG

o amor se esvai em nossos nomes. já fui marcela, carolina. já fostes pedro, andré.
nossos nomes trocados, identidades móveis.
só o coração continua aqui.

outra versão para a estrela só

era uma noite de uma estrela só. Noite boa para se fazer poesia, eu pronta que estava. se eu não fiz nada, foi por sua causa. eu te pedi: "deixa eu te amar um instante" e vc respondeu: "volte a olhar para a estrela, paula. botei ela no céu só pra vc."

pintou o céu, mas economizou nas tintas

era noite de uma estrela só.
triste para os poetas que precisam delas todas.

a lua já não estava cheia. é essa a claridade que precisamos.

é triste ver o céu apagado, iluminado por uma estrela só, que não dá conta de mim.
é triste.

só colando, colando

a felicidade é feita de pequenos momentos.
é só colar que vc tem a felicidade inteira.

brincadeiras em cima da cabeça

andei pensando, literalmente andei pensando, pois pensava enquanto andava. ora passos miúdos, ora largos e nesse amiúde o dia virou noite e a nuvem abriu-se no céu, dando espaço à estrela, uma única, que cintilava no azul claro-escuro dum céu que anoitece. e o que eu pensava era uma coisinha à toa, assim como quem sabe que o pensado não é nem filosofia, nem poesia. beirando quase a sandice, perguntei-me como se perguntam as crianças: que vou ser quando crescer? pois eu me pergutava se preferia ser nuvem ou estrela. Ah, estrela é muito mais cintilante e poético, mas nuvem... ah, nuvem dá pra brincar com elas.

(19 de setembro de 2006)

maomé

a fé que me move é a mesma que move montanhas

coisas do céu e da terra

se o buraco é mais embaixo, o céu não tem limite.

moeda

estou sentada no chão, colhendo sonhos de quem passa na rua. sou uma mendiga. aquele ali carrega fardo leve: tem fé em deus e muita grana no bolso. com a senhoria ali já é diferente: tem três filhos e agora essa dor de dente. sou uma mendiga e a única coisa que sei é coletar sonhos. não me chamem de poeta. não quero arder em chamas depois de morta. acho que a vida é como essa moeda que aquele ali me deu: jogue para o alto e deixe que ela cai do jeito que deve.

do capibaribe ao tâmisa

sou correnteza de rio que nunca vai se acalmar

cinema indiano

se diamante é beijo na tela
eu quero ser ela

Xica Só e o Elefante Branco

[1] Xica Só não tem a vida muito colorida não. Pra ela é tudo tão preto no branco. (Só a blusa dela que é rosa. E só às vezes... porque Xica Só é de enjoar de cores.)

[2] Xica Só tem 16. Gosta de música, cinema, jornal e animais (parece uma menina normal, mas vocês vão ver que ela não só parece, como é!). Ela não tem nada de blasé, apesar de seus cachos deixarem ela assim meio assim, sabe, désolé (ela mal imagina que cabelo liso lisinho chapado tadinho daqui a um mês vai ser tão démodé...)


[3] Na frente da casa dela, tem uma árvore frondosa (fron-do-sa... gostosa essa palavra, pensou Xica Só, vou usá-la mais vezes!)

[4]Xica ouviu um chiado e era um gato no último galho, sozinho que tava, desespero batendo, e Xica pensava em ligar pro bombeiro? Nada! Menina egoísta, mimada, pensou que legal que seria ter um bicho de estimação.

[5] Xica Só tinha que ser diferente. Deixou o gato plantado miado e discou o número do circo querendo um elefante!

[6]Ela ia querer um elefante preto ou branco?, perguntaram do outro lado.

[7] Ficou desorientadinha, tamanha a confusão.

[8]Os caracóis dos seus cabelos se enrolaram com as idéias que se enrolaram com Xica Só e Xica Só quase vira ninho, daqueles de passarinho.

[9] Tava tão quentinho, que ela pegou no sono.

[10]E não é que dormiu de verdade?

[11]No dia seguinte, da janela dela...

[12] O bom-dia do Rio sorria pra ela.

[13]E Xica Só viu que, na casa da frente, tinha duas meninas iguaizinhas e pensou: ainda bem que Xica Só, só tem eu só.

[14]Ou existe outra menina que tenha cabelos désolé, cria um elefante e gosta de cinema? Será que tem um monte de outras “chicas”, que, como Xica, era única, uniquinha, uma menina maluquinha, assim sem nem dar nó? Era ela a Xica Só.

lágrimas sujas

é uma sexta-feira e estou estatelada na cama, lendo henry miller fazendo suas porcarias em trópico de câncer. ando um pouco em dúvida em que música ouvir. acabo botando ary barroso. nada me dói. a solidão cai no chão com as minhas lágrimas e acaba ali. é bom pensar que há uma multidão na minha cabeça.

em homenagem ao vacatussa

O céu da vaca é o pasto.

cigarro

joga essa fumaça pra cima de mim. vem de dentro de tu.
e é onde eu mais queria estar

longe

lounge é um lugar que não existe. pra mim é tudo dancefloor.

eu posso estar errada

quem volta atrás não erra caminho.

de olhos bem fechados

tive um sonho assim: eu andava pela casa acendendo as luzes, mas a casa continuava escura. Aí alguém falava: abre os olhos.

(27 de outubro de 2005)

biblioteca de babel

tantos livros...
só dois olhos.

sobremim 2004

pinto as unhas de branco não uso perfume nem tiro as havaianas do pé quero casar e ter sete filhos sou católica apostólica romana uso óculos e corto o cabelo de dois em dois meses se eu pudesse, vivia deaçaí quero fumar fui ali comprar um cigarro e já volto voltei na próxima encarnação quero ser uma vaca adoro contos de fada o lobo mau é um incompreendido a gente freqüenta o mesmo analista quero ir pra china se eu soubesse dançar ia ser bailarina vou fugir com o circo casar com o palhaço vou devorar o leão pra sair no jornal tenho uma fada madrinha não acredito em duende nem nunca vi um etê joguei meu celular pela janela ontem eu saí às duas da manhã e o porteiro me disse bom dia e a minha noite estava apenas começando passo mal com água de coco só leio o caderno c adoro a hello kitty e o meu irmão que mora na hungria meu quarto é todo amarelo meu olho é verde ou azul? no horóscopo chinês sou macaco no zodíaco sou câncer já morri de amor e se precisar eu mato esse livro eu já li tenho um segredo mas não vou contar

* para o orkut

quem é essa?

mulher pretenciosa irônica e indecente
chata, confusa, impertinente, dúbia. captura sacis em redemoinhos e cria-os cativos ao pé da cama. má, não respeita a liberdade; usa-a somente a seu bel-prazer, como dona de cachorro em coleira que afroxa e quase deixa ele ir e, justinho nessa hora, põe força no punho e aperta-lhe o pescoço. de natureza selvagem, respeita o vento e se esconde dele com medo. seu tempo é de brisa. no mais, acredita que mentira existe para ser usada. safada, a nega quer posto: posto de mais-qualquer-coisa no seu coração, posto shell, posto 9. deixa ela na praia e ela volta preta. ou não volta. e deixa a família preocupada. dada como morta, retorna toda torta porque dormiu na praia e não usou filtro solar. não lhe dê conselhos clichês: ela não os segue. originalidade é qualidade por demais admirada. dos três caminhos, ela prefere ficar perdidinha questionando se o do meio é mesmo o melhor. de todas as palavras, a única que não usa é talvez. palavrões, xingos e cafunés são permitidos. só não deixe ela no vazio insuportável de um talvez. agora, sussurre no ouvido a palavra proibida e ela sucumbe a tudo e separa em duas sílabas e lembra da tal vez em que era feliz e acreditava piamente em sua própria bondade.

Not a pop word

Eu não quero palavra gasta pra dizer o que sinto por você não cabe no som dessas letras juntas: amor quero algo novo virgem como meu coração nunca usado nunca sentido quero uma palavra que só nós dois entendam uma palavra nossa sem dicionário sem explicação sem uso para o senso comum, para o uso popular quero a palavra minha a palavra sua: Nós, talvez seja a melhor tradução