sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

mmxi

que isso vire um diário agora, prometeu. foi além: vai viver mais, não pelo mero prazer de estar por aí, mas pelo único motivo de poder colocar em palavras a vida. porque em tudo ela enxerga palavras. seus adereços sempre têm algo a dizer, como: love, dreams, minhas histórias. é isso que carrega no pescoço. e, às palavras é que ela promete que levará uma vida. apenas para expressá-la depois. porque lhe parece que as versões é que importam. que as palavras é que marcam. a vida além da vida é o verbo. é o verbo que a carrega. quero mais. viver para contá-la, disse gabo. e vou com ele.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

C.,

Clarice baixa em mim todo dia, mas é toda silêncio, não me diz nada. Na verdade, sinto-me impelida a abrir um livro seu, continuar em silêncio. Sinto-me imbuída de toda sua elegância, que é minha, agora, enquanto leio. Sensual, também. Pois é literatura de captura, literatura de alcova, mas aquela alcova de mil travesseiros, em que estou só. É sensual porque dá vontade de comer, beber, respirar. É sensorial demais, porque vem de dentro. De dentro de mim, que ela conseguiu enxergar de longe. É em espaço que, de tão espaçoso, não cabe aqui dentro, que é seu lugar. Cai do lado de fora, transborda e vira água-viva, que queima, mas que atrai o toque. É preciso entender de elegância para ler Clarice. De silêncios gritados. Dos nossos lados de dentro do lado de fora. Entender do ovo e seu desenho perfeito, branco. É entender do que só podemos ter se roubado. O que nunca será nosso. O que é nosso e de todos. É partilha involuntária. Felicidade clandestina, que é felicidade cinza, cor-de-burro-quando-foge, clandestina de fugida e de escondida, como no dicionário mesmo. Felicidade não procurada, mas roubada porque achada. Na estante, entre outros livros.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

a guiar

a moça desafiou-o com caminhos diferentes e ele conhecia todos. de bengala e de cachorro em coleira, era ele quem a guiava pelas ruas da sorte, das graças, da amizade. e lhe ensinou tantas coisas que foi ela quem descobriu que não via. a luz a havia cegado mais que a escuridão a ele. ele era todo olhos. se lhes faltavam os olhos da face, os olhos mais primitivos, ele tinha olhos sofisticados era nos ouvidos, nas mãos, nos pés. ele não via, mas sentia com o corpo todo. e essa era sua vantagem.

sábado, 5 de junho de 2010

ao apagar das luzes

não faça poesia.
faça silêncio.

sábado, 15 de maio de 2010

Notícias do eu-profundo

O meu eu-profundo é um tanto quanto superficial, superficial de superfície mesmo, é que está tudo na cara, óbvio. Meu eu-profundo é um ente abstrato que de tão complicado tornou-se claro aos olhos de outros eus-profundos. Meu eu-profundo nunca é esquecido, porque é a face que aparece no espelho, quando minhas objetivas verdes tentam capturar a essência do que sou por fora. Meu eu-profundo às vezes se demora em minhas entranhas – é quando chega mais fundo – e logo retorna aos poros da pele, que é o seu lugar, onde eu respiro. O meu eu-profundo tenta ser razoável, mas na maior parte das vezes é apenas medíocre. Meu eu-profundo não recebe notícias de si mesmo, porque, sempre com a cara na vidraça, é testemunha de realidades inventadas. Meu eu-profundo é aquele que expira, a cada instante, dentro de mim, dona de um eu-profundo fotofóbico, já que exposto ao sol, exposto à luz. Exposto.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

gosto se discute, desgosto é que não tem jeito

gosto de frases curtas e amores longos.
gosto de gostos ocres e beijos doces.
gosto de fugir e de encontrar.
gosto de causar incêndios e de falta de luz.
gosto de frio na espinha e de calor nos pés.
gosto de amarelo e de apagar as outras cores.
gosto de portas, pra ir embora e pra voltar.
gosto de chão pra olhar o céu.
gosto de céu pra pensar em ti.
gosto de carinho pra fazer.
gosto de arranhão, palavrão e rockn'roll.
gosto de flores plantadas.
gosto de coisas fúteis, porque pensar dói e eu quero é ser feliz.
gosto de coisas importantes e de quem quer mudar o mundo.
gosto de cafés e cigarros.
gosto do meu trabalho, de ser isso aqui e de saber que tudo isso vai mudar.
gosto de saber que nada é para sempre e que meu amor é eterno.
gosto de pensar em ir embora e de ver que aqui é o meu lugar.
gosto de tudo isso. porque gostar é fácil, díficil mesmo é não gostar. não gostar acaba comigo. não gosto quando não gosto. isso é que é des-gosto.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

no secrets for you all

minha vida são dois livros abertos.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

sobremim 2010

depois de você, tudo ficou amarelo. e eu, pálida-pálida, comecei a enxergar o ouro varrido pra debaixo do tapete. quanta coisa esqueci de mim::: a paisagem da minha janela não mudou nada - o mar continua lá-, meu livro preferido eu reli, e continua muito bom, meu cabelo é castanho escuro, ainda. as unhas mudam de cor a cada sete dias, mais certo do que eu ir à missa aos domingos. a vaca é mesmo o animal mais sagrado e tenho certeza que é uma grande filósofa. dancei tanto que derreti. caí nos braços de um cavalheiro e estou bailando feliz até hoje. não sei se quero sair no jornal ainda, talvez meu nome nos créditos já esteja bom. à china eu ainda vou, mas vou dar uma passadinha na rússia, antes que se acabe o climinha vermelho que ainda resta. comecei a ler outras coisas, abandonei velhos cânones - meus canônes - e elevei a futilidade a um altar de musas, em que estão também a fé, a alegria, a cultura. pode parecer contraditório, mas sou afeita à ideia de que só a futilidade salva (às vezes). é quando me dá vontade de sair bonita por aí, rindo e sendo mais feliz que nunca, porque a cabeça não pesa e estou anestesiada das coisas tristes que me congelam o olhar. mas não sou joana darc, então meu libelo fica só entre nós, ok?

lamento-blues

é que quando a música parou e a vida começou você não estava aqui. e nem a música mais triste, o blues mais blue, daria conta do vácuo que você deixou quando partiu. porque era pior que silêncio, era pior que vazio. era um buraco. e não há nada mais cheio de vazios que essas covas profundas na terra, em que não estou enterrada mas continuo a olhar o céu que não é azul só para mim. pois quando você partiu, a música ecoou pela última vez, meu sangue correu quente pela última vez e parece mais é que morri. se não era música, era vida, agora tudo acabou; não há música, não há vida. aqui, só o oco de mim.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

vácuo

tédio é quando o que vc quer fazer não existe.