terça-feira, 28 de agosto de 2018

Come meu juízo

Pouca gente sabe como padece um escritor
o juízo sendo devorado lentamente
pelas histórias que ele não contou

elas ficam aí pelo seu mundo interior
mastigando seu cérebro
comendo seu juízo

é um filho que se pare a ele mesmo
tem a hora certa de nascer
e só ele sabe, ele, a História, o filho

o juízo vai ficando deste tamainho
é um sofrimento da gota
(mas é bom)

e você pensa naquela história 24h por dia
e nunca é uma história só, nunca
então do juízo que já é pouco
sobra quase nada pros outros setores da vida

quando a história ganha o mundo
o escritor ganha um pouco de vida
que vai ser consumida logo depois
por outra história que vai cair pra dentro dele

vai morar nele, fazer terror, vai bagunçar o coreto,
vai expulsar ele próprio de sua casa

mas o escritor gosta disso, ele não tem escolha
e ele acaba morando nessa bagunça
não tem quase espaço pra ele
mas ele não faz questão de arrumar
ele gosta

ou seja, história, pode entrar!

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

a bela flor do caos

Tu és a bela flor do caos
Alimentada a água e pimenta de cheiro
Tens a vida pulsando em teu puro vermelho
Quando sorris, tua boca dá a volta no mundo
Os pássaros, as gentes, os dinossauros
Trazes em tua seiva a incompletude dos seres
És divina
És rasteira
És um arremedo de qualquer coisa bela que grita:
Coragem!
Coragem, aquela coisa que quanto mais se gasta, mais se tem
Segue adiante
Olhe pra trás
Derrame-se em sal na terra
Dê vida
Volte flor
És amor
Vibra
E vibre ainda mais
És forte flor
Feita de espinhos, perfume e cor
És, sou
Flor