sexta-feira, 5 de junho de 2009

presente

eu queria que amanhã fosse perto

sexta-feira, 8 de maio de 2009

pise no meu pé

vamos lá, preciso de um pouco de vida, nem que esse pouco de vida doa na carne, essa carne sem vida, quase morta. pise no meu pé, quero algo que doa, algo que seja perto do que se chama vida. me fure com um alfinete, me faça sangrar, me faça gritar. me dê algo perto da emoção, mesmo que seja dor. acho que vc sabe do que falo. onde não há vida, só seca, um lamento já é um bom sinal. ecoa, mesmo que seja dentro e cá, onde está tudo devastado. é preciso de algum vento que que termine com tudo, mas que me deixe os escombros.

segunda-feira, 30 de março de 2009

o problema do sofá amarelo

o problema do sofá amarelo é que tem alguém entre nós. esse alguém entre nós cruza e descruza as pernas, demonstrando certa impaciência em estar entre nós. a solução é fácil: levantar e sentar em outro sofá. só que outro sofá amarelo não há e a graça é estar entre nós, suando, achando ruim, atrapalhando uma conversa ao pé do ouvido. é uma sadomasoquia de quinta-feira, que é o dia em que a gente sentou no sofá amarelo, pegou uma cerveja e alguém de salto-agulha ficou entre nós. o sofá tinha três almofadas - amarelas, porque o sofá era amarelo - e a graça era ser a pessoa do meio. nós éramos dois, estávamos juntos, até a pessoa de salto-agulha, que suava, achava tudo chato e ainda por cima era sadomasoquista, sentar bem no meio. o sofá amarelo virou cenário de guerra, uma guerra velada, em que a pessoa que cruzava e descruzava as pernas decretou o silêncio entre nós, que nos amamos tanto. o problema do sofá amarelo era ser amarelo. já o nosso, era ter alguém entre nós. alguém que cruzava e descruzava as pernas, suava, achava tudo chato e parecia repetir a cena de cruzar e descruzar as pernas só para mostrar quão longe eu estava de você, mesmo a uma almofada de distância.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

histórico de um amor cruel número 4

depois do fim, sinto-me forçada a continuar vivendo...
pisando sob cadáveres, fazendo a dança da chuva, distribuindo restos de amor em papel alumínio, chorando, me condoendo, botando um sorriso no rosto, mascarando alguma coisa que eu nao sei explicar, ouvindo funk, querendo mais coisas que tenham a ver comigo.
mais comigo do que a qualquer outra pessoa.
quero ser eu. eu. eu.
para lembrar:
entre as coisas que eu gosto estão a palavra, o sol, esmalte vermelho, a vida lá fora, a vida aqui dentro, a vida onde quer que seja. gosto de papel, de dormir tarde, de cidade grande, de bernardo soares, de café sem açúcar.
ando lendo myrna demais, ouvindo conselhos demais, por exemplo::: me disseram para parar na primeira pergunta ao invés de querer entender o mundo e carregá-lo no bolso. as coisas me inquietam demais e eu sou dada a filosofices. eu respondi que, depois de toda interrogação, sempre vêm os três pontos. as perguntas sem fim, labirintos de minotauros. ai! isso sempre acabou comigo: saber que nada tem um fim. nunca! estar sempre em dúvida, pensando possíveis finais, nunca achando a saída. o problema dos fins é que eles pressupõem novos começos e isso é de dar medo. começos. taí uma palavra que eu não gosto.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

histórico de um amor cruel número 3

Nosso amor delicado tinha a crueldade de plantas carnívoras e a existência de tulipas. Escolhemos as tulipas. Tentávamos, em vão, esquecer esse signo Escorpião que está embutido nessas coisas verdes que comem insetos. Até esperanças são devoradas, não importa se são verdes. Eu perguntava a ele, chorando: até as esperanças? Ele: até as esperanças. Eu: o que restará de nós, no fim de tudo? A vingança inesperada de tulipas azuis ou a maldade óbvia das plantas carnívoras? Ele: não restará nada. Eu pensei: Morte súbita do nosso amor? Nem para ter um fim digno. Eu quero, ao fim, destroços. tulipas despedaças, maquiagem borrada e tudo o mais. quero um fim que dói, para justificar os esforços, a traição, um outro fim dele, um outro amor meu. quero tulipas secas, uma luz baixa e nina simone cantando às borboletas. borboletas que nunca seriam pegas pela crueza de uma planta, e nem pelos simbolismos. eu quero um fim borboleta, lagarta, casulo. sem pensar muito, quero voar baixo no jardim e te transformar em gnomo. quero vc perto de mim. ainda que este seja o fim.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

histórico de um amor cruel número 2

falamos de vc enquanto tomávamos um café com chocolate. fumaças minha e dele se misturando, nos unindo pela respiração. alguma chama nos olhares, incerta. as chamas dos cigarros eram mais estáveis, mesmo com uma duração tão curta. todos no café nos olhavam. não era para estarmos juntos. o filme ia começar, mas já tínhamos visto há uns dias atrás. nosso vício era o café, o cigarro e a companhia um do outro. isso maltratava você, a quem julgávamos morta. mas não. retornastes do outro lado querendo vingança. dei minha cara a tapa: o lado direito, o lado esquerdo. doeu um pouco, uma doída gostosa e merecida. ele já não importava. eu não queria paz, queria mesmo era que também ele sofresse. não éramos duas a disputar um amor. eram duas mulheres a brigar. e para nós, brigar, essa histeria toda, era parte dum charme a que esperávamos recompensas. ele acabou me escolhendo, o grande prêmio. fiz por merecer. pra vc agora, que se dói toda, é de novo uma perda. vc perdeu. mas eu ganhei, ganhei duas vezes: um amor novo e uma inimiga. não preciso de mais nada. obrigada, querida.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

histórico de um amor cruel número 1

Falamos de vc. Contei uma piada sem graça, ele riu, bem-educado. Tomamos um café. O cigarro não fumamos. O filme ia começar. Sentamos juntos. Braço colado, dando uma sensação de falta de espaço. Alguém sobraria nessa história. Precisávamos tirar vc da cabeça. Vc atrapalhava o filme, o nosso filme. Na tela, a mocinha morria antes da primeira meia hora de sessão. Você também. Chorávamos, emocionados, eu e ele. Era tudo por vc, que não faria mais parte da história. Naquele momento, um novo amor começava. Se extraia da morte, condensava-se com os beijos não dados ainda e se mantia forte por estar diretamente ligado à derrota de alguém. Pena isso, pena. Mas o fato é que o amor não tem redéas e pode machucar porque seus dentes são de cavalo selvagem e seu galope não é de ferraduras. Solto, o amor até mata. Assim como matamos vc.

vontade

vontade de pular amarelinha
de fumar um cigarro lá fora
vontade de queimar esse caderno e viver (mais)
da noite virar dia logo
vontade de roubar essa caneta, fazer algo proibido
vontade de não comer e não dormir
vontade de amanhecer e ser o sol
de anoitecer e ser a lua
vontade disso e daquilo
vontade de parar por aqui porque a vida é boa, vc é lindo
e eu estou aqui

sábado, 24 de janeiro de 2009

baxô a balarina

baxô a balarina. façam silêncio. eu preciso dançar. música não há. o espetáculo não será aplaudido. ela existe dentro aqui, a balarina. é silenciosa e perfeita, mas não pode ser machucada. toma cuidado com tudo, principalmente de seus pés. a locomoção é importante. com seus pés, flutua. e nem precisa de asa. leve como uma pluma - como a balarina se acha-, ela dança. ela só pesa aqui. acho que sou ainda mais leve que ela. essa balarina que mora dentro de mim pesa uma tonelada, mas só eu sei. só eu sei. qualquer dia eu deixo ela sair por aí, dançando. e junto vou eu. sendo mais feliz que nunca.

domingo, 11 de janeiro de 2009

pra vc, tchau

escrever me serve para expurgar os demônios.
escrevi muito hoje.
me livrei de vc.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

the end

há sempre beleza no final.

Malditas Borboletas

não era para serem malditas. era para serem amarelas.