terça-feira, 28 de agosto de 2018

Come meu juízo

Pouca gente sabe como padece um escritor
o juízo sendo devorado lentamente
pelas histórias que ele não contou

elas ficam aí pelo seu mundo interior
mastigando seu cérebro
comendo seu juízo

é um filho que se pare a ele mesmo
tem a hora certa de nascer
e só ele sabe, ele, a História, o filho

o juízo vai ficando deste tamainho
é um sofrimento da gota
(mas é bom)

e você pensa naquela história 24h por dia
e nunca é uma história só, nunca
então do juízo que já é pouco
sobra quase nada pros outros setores da vida

quando a história ganha o mundo
o escritor ganha um pouco de vida
que vai ser consumida logo depois
por outra história que vai cair pra dentro dele

vai morar nele, fazer terror, vai bagunçar o coreto,
vai expulsar ele próprio de sua casa

mas o escritor gosta disso, ele não tem escolha
e ele acaba morando nessa bagunça
não tem quase espaço pra ele
mas ele não faz questão de arrumar
ele gosta

ou seja, história, pode entrar!

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