quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

sobremim 2010

depois de você, tudo ficou amarelo. e eu, pálida-pálida, comecei a enxergar o ouro varrido pra debaixo do tapete. quanta coisa esqueci de mim::: a paisagem da minha janela não mudou nada - o mar continua lá-, meu livro preferido eu reli, e continua muito bom, meu cabelo é castanho escuro, ainda. as unhas mudam de cor a cada sete dias, mais certo do que eu ir à missa aos domingos. a vaca é mesmo o animal mais sagrado e tenho certeza que é uma grande filósofa. dancei tanto que derreti. caí nos braços de um cavalheiro e estou bailando feliz até hoje. não sei se quero sair no jornal ainda, talvez meu nome nos créditos já esteja bom. à china eu ainda vou, mas vou dar uma passadinha na rússia, antes que se acabe o climinha vermelho que ainda resta. comecei a ler outras coisas, abandonei velhos cânones - meus canônes - e elevei a futilidade a um altar de musas, em que estão também a fé, a alegria, a cultura. pode parecer contraditório, mas sou afeita à ideia de que só a futilidade salva (às vezes). é quando me dá vontade de sair bonita por aí, rindo e sendo mais feliz que nunca, porque a cabeça não pesa e estou anestesiada das coisas tristes que me congelam o olhar. mas não sou joana darc, então meu libelo fica só entre nós, ok?

lamento-blues

é que quando a música parou e a vida começou você não estava aqui. e nem a música mais triste, o blues mais blue, daria conta do vácuo que você deixou quando partiu. porque era pior que silêncio, era pior que vazio. era um buraco. e não há nada mais cheio de vazios que essas covas profundas na terra, em que não estou enterrada mas continuo a olhar o céu que não é azul só para mim. pois quando você partiu, a música ecoou pela última vez, meu sangue correu quente pela última vez e parece mais é que morri. se não era música, era vida, agora tudo acabou; não há música, não há vida. aqui, só o oco de mim.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

vácuo

tédio é quando o que vc quer fazer não existe.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

presente

eu queria que amanhã fosse perto

sexta-feira, 8 de maio de 2009

pise no meu pé

vamos lá, preciso de um pouco de vida, nem que esse pouco de vida doa na carne, essa carne sem vida, quase morta. pise no meu pé, quero algo que doa, algo que seja perto do que se chama vida. me fure com um alfinete, me faça sangrar, me faça gritar. me dê algo perto da emoção, mesmo que seja dor. acho que vc sabe do que falo. onde não há vida, só seca, um lamento já é um bom sinal. ecoa, mesmo que seja dentro e cá, onde está tudo devastado. é preciso de algum vento que que termine com tudo, mas que me deixe os escombros.

segunda-feira, 30 de março de 2009

o problema do sofá amarelo

o problema do sofá amarelo é que tem alguém entre nós. esse alguém entre nós cruza e descruza as pernas, demonstrando certa impaciência em estar entre nós. a solução é fácil: levantar e sentar em outro sofá. só que outro sofá amarelo não há e a graça é estar entre nós, suando, achando ruim, atrapalhando uma conversa ao pé do ouvido. é uma sadomasoquia de quinta-feira, que é o dia em que a gente sentou no sofá amarelo, pegou uma cerveja e alguém de salto-agulha ficou entre nós. o sofá tinha três almofadas - amarelas, porque o sofá era amarelo - e a graça era ser a pessoa do meio. nós éramos dois, estávamos juntos, até a pessoa de salto-agulha, que suava, achava tudo chato e ainda por cima era sadomasoquista, sentar bem no meio. o sofá amarelo virou cenário de guerra, uma guerra velada, em que a pessoa que cruzava e descruzava as pernas decretou o silêncio entre nós, que nos amamos tanto. o problema do sofá amarelo era ser amarelo. já o nosso, era ter alguém entre nós. alguém que cruzava e descruzava as pernas, suava, achava tudo chato e parecia repetir a cena de cruzar e descruzar as pernas só para mostrar quão longe eu estava de você, mesmo a uma almofada de distância.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

histórico de um amor cruel número 4

depois do fim, sinto-me forçada a continuar vivendo...
pisando sob cadáveres, fazendo a dança da chuva, distribuindo restos de amor em papel alumínio, chorando, me condoendo, botando um sorriso no rosto, mascarando alguma coisa que eu nao sei explicar, ouvindo funk, querendo mais coisas que tenham a ver comigo.
mais comigo do que a qualquer outra pessoa.
quero ser eu. eu. eu.
para lembrar:
entre as coisas que eu gosto estão a palavra, o sol, esmalte vermelho, a vida lá fora, a vida aqui dentro, a vida onde quer que seja. gosto de papel, de dormir tarde, de cidade grande, de bernardo soares, de café sem açúcar.
ando lendo myrna demais, ouvindo conselhos demais, por exemplo::: me disseram para parar na primeira pergunta ao invés de querer entender o mundo e carregá-lo no bolso. as coisas me inquietam demais e eu sou dada a filosofices. eu respondi que, depois de toda interrogação, sempre vêm os três pontos. as perguntas sem fim, labirintos de minotauros. ai! isso sempre acabou comigo: saber que nada tem um fim. nunca! estar sempre em dúvida, pensando possíveis finais, nunca achando a saída. o problema dos fins é que eles pressupõem novos começos e isso é de dar medo. começos. taí uma palavra que eu não gosto.