sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ficção de um dia de verdade

você não imagina o que é minha vida em A sustenido. tudo o que me acontece tem trilha sonora de orquestra, paisagens bonitas e ou degradantes e pessoas que falam falas de filmes. é que eu sou uma romancista, não dessas que escreve, mas dessas que vive mesmo. outro dia, peguei o ônibus errado, sacanagem de motorista. do outro lado, rio capibaribe, dia de sol e, na mão, um livro com a capa mais linda do mundo: meu destino é pecar, de suzana flag. eu, na ponte, pensando em suicídio, em matar o cachorro, em jogar o livro rio abaixo. matei o cachorro, me suicidei só depois, mas o livro ficou salvo. era um dia lindo para uma morte e ela estava ali, toda me querendo. o rio estava sujo, todo me querendo. mas o livro que seria salvo dizia: meu destino é pecar. e então não podia. nem rio, nem morte. pensei que não tinha pecado o suficiente, mas que precisava conversar com nelson. procurei entre as estátuas dos poetas e escritores pernambucanos, que convivem conosco no recife antigo, e nelson não estava lá. tive que salvar o livro para conversar com ele por ali. conversa de olhos. nunca de bocas e ouvidos. nelson me salvaria. me diria: se joga, adelaide. apesar de meu nome não ser adelaide. nelson me defenderia: esquece, engraçadinha, e vai viver tua hipocrisia. finja que esse dia não houve. mas meu nome não é engraçadinha e eu não sou hipócrita.

 é, adoro quem assim se declara. entre um milhão de pessoas que se auto-declaram não hipócritas, existem um milhão de pessoas que não sabem o significado da palavra. 


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